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sábado, setembro 08, 2012

Fuga




Cap 7 da Web/Livro O espelho de Alice B.

Depois que Clara morreu ali ao seu lado, nossa jovem garota viu que talvez, com muita esperteza, poderia vencer seu tio e fugir para um mundo melhor.
Um mundo que ela nem tinha certeza de que existia, mas, tinha plena convicção de que precisava ao menos tentar conhecer.
E assim, aos 15 anos, nossa heroína tentou sua primeira fuga. Que, não somente não deu certo, como o pagamento pela sua estupidez foi maior do que poderia imaginar.

Tentei fugir e ele percebeu, nem lembro o que fiz, estava drogada, pensei muito no que Clara me disse e tentei fugir enquanto ele estava chapado, mas, eu não percebi que drogada eu fico mais fraca e que ele fica de qualquer forma, mais forte que eu.

Eu lembro da primeira tentativa de fuga, eu havia sido abusada na noite anterior, que hoje, percebo, seria um sábado, então era um domingo quando tentei fugir. Aos sábados eu sempre recebia visitas indesejáveis dos amigos dele, um bando de homens que se achavam superiores em seus cargos de confiança.
Ele estava se drogando, e pedi para que me desse um pouco de "xyz" para que as dores dos abusos diminuíssem. Eu não imaginei que drogada meu senso de direção ficasse mais comprometido. Eu precisava de um pretexto, uma desculpa para que ele entrasse no quarto e eu tivesse uma chance de bater nele e fugir.
Ele foi mais esperto, me disse que entregaria a droga nas minhas mãos, e quando fui pegá-la, ele aplicou uma injeção contendo outra droga mais forte. Eu até tentei reagir e bater nele, mas, ele foi mais esperto e acabei apanhando tanto que por mais de 1 ano não tentei fugir novamente.

Quebraram meu braço depois da primeira tentativa, não lembro se fui abusada enquanto apanhava, lembro dele me chamando de burra e ligando para alguém, pedindo que me matassem. A pessoa acho que nunca apareceu, pois, continuei apanhando, ouvindo que nunca fugiria e que eu nunca seria livre, pois, eu era toda dele e sempre seria a sobrinha do tio malvado, e que ele só queria meu bem e que eu sempre estaria perto dele mesmo que não quisesse.

As palavras dele foram bem mais amenas que as minhas acima, ele dizia de uma forma que eu me senti culpada por tentar sair de perto dele. Nessa época, eu me sentia responsável pelos abusos, eu achava que de alguma forma eu era responsável por tudo que me acontecia. Que ele tentava me proteger daquela forma e que me amava do jeito louco dele.

Se era amor? Não! Era uma doença na cabeça dele que o dizia que eu deveria ser abusada para que soubesse que precisava dele. Ele, em sua mente fria e sórdida, me amava e precisava de mim ao seu lado, mesmo que á força.

Depois daquela primeira tentativa, eu me senti fraca, tão fraca e sem vontade de nada que parei de comer o pouco que me ofereciam. Eu já me sentia morta e implorava aos abusadores que me atassem, mas, eles nunca matariam um corpo que poderiam ter sempre que desejassem, mesmo esse corpo sendo o de uma garota de 15 anos já morta por dentro.
Me mandem uma foto para ilustrar esse capítulo

2 comentários:

  1. Na minha opinião, o abuso sexua NUNCA, mas NUNCA é um acto de amor ou de protecção. É sim uma doença psicológica, uma perturbação. Os abusadores sexuais são pessoas emocionalmente afectadas, e têm muita falta de humanismo e respeito pelos outros. E isso NUNCA é amor nem protecção como tu bem disseste. É uma doença. É uma obsessão.
    Ele é completamente doente...
    Custa-me tanto que existam pessoas que façam sofrer as outras desta forma. E o facto de eles serem transtornados psicologicamente não é desculpa para cometerem tamanha atrocidade com as pessoas.
    Pois as pessoas (agora falo respectivamente aos abusadores sexuais), mesmo transtornadas/doentes, têm a plena consciência dos seus actos, mas infelizmente não vêem (ou não querem ver) o sofrimento que causam à vítima.
    Tinha uma ideia completamente diferente do que era um abuso sexual antes de te conhecer. Só depois de te conhecer é que percebi o quão triste e doentio isso pode ser, e percebi o quão isso pode ir ao extremo. Enfim, é muito triste mesmo.

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  2. PS:
    " (...) ele dizia de uma forma que eu me senti culpada por tentar sair de perto dele. Nessa época, eu me sentia responsável pelos abusos, eu achava que de alguma forma eu era responsável por tudo que me acontecia. Que ele tentava me proteger daquela forma e que me amava do jeito louco dele."

    Sinto-me triste quando vocês, pessoas que foram (ou são) vítimas de abuso sexual, se vitimizam, como tu fizeste no excerto acima.
    Vítimas de abuso sexual, por favor, metam uma coisa na cabeça! A culpa não é vossa mas sim dos abusadores!

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